"O plástico é simultaneamente uma das mais brilhantes criações da humanidade e uma das mais destrutivas. Por essa razão, nos últimos anos temos visto o surgimento de inúmeras alternativas a este material obtido a partir de combustíveis fósseis. Conhecidos como bioplásticos, apareceram com a promessa de uma opção mais sustentável às tradicionais embalagens de plástico. Estes produtos têm como base matérias-primas naturais, que associamos a comida, como é o caso do farelo de trigo, do milho ou da cana do açúcar.
Não deixam, ainda assim, de ser embalagens descartáveis. E a primeira pergunta que surge é: o que fazer quando já não precisamos dela? Uma pequena fatia da população encontrará inúmeros usos para aproveitar este material até ao limite. Mas a esmagadora maioria vai descartá-lo.
No descartar vamos contemplar duas opções:
- Deitar no contentor amarelo, destinado às embalagens e ao plástico – afinal, é um produto homólogo
- Deitar no contentor do lixo indiferenciado, cujo destino final é o aterro ou a incineração
O senso comum diria que a primeira opção é a melhor, pois seria preferível reciclar esta embalagem a perdê-la para sempre. E é aqui que os problemas começam. Na verdade, qualquer que seja a decisão do consumidor, o destino será o mesmo: aterro ou incineração.
Este desfecho é capaz de causar palpitações a qualquer pessoa que se preocupa com o ambiente. Acontece assim porque os bioplásticos só se comportam como os seus gémeos falsos à base de petróleo até certo ponto. Quando chegamos à reciclagem, os métodos usados para o plástico não se aplicam a estes novos produtos. Por isso é que um bioplástico será descartado na triagem do plástico tradicional e conduzido para a mais danosa solução para o tratamento de resíduos: o aterro ou a incineração.
Muitas destas embalagens e utensílios têm impressa a palavra 'compostável' (ou 'compostable', em inglês). É justo que perguntes: "Mas então não são compostáveis?". A resposta é mais complexa do que aquilo que parece à primeira vista. Sim, se dizem isso é porque são compostáveis. Antes que vás a correr entregar as tuas embalagens àquele amigo esquisito (como nós 🤓) que faz compostagem com minhocas, damos-te a segunda parte da resposta: só são compostáveis industrialmente, num ambiente com temperatura e humidade controladas.
A palavra 'compostável' faz com que muita gente pense que pode simplesmente atirar uma destas tigelas ou copos para a beira da estrada e que, tal como uma casca de banana ou uma folha de espinafre, estes recipientes vão desintegrar-se e fundir-se novamente com o solo. Ora, isso não podia estar mais longe da verdade.
Fora desse tal ambiente industrial, os bioplásticos vão seguir essencialmente o mesmo processo dos plásticos convencionais. Vão decompor-se em partículas cada vez menores sem desaparecer por completo durante muito tempo. Vão acabar nos oceanos, causando mais mortes entre animais marinhos. Podem, no limite, acabar igualmente dentro de nós e até na nossa corrente sanguínea, como já acontece com os microplásticos convencionais.
Os problemas estendem-se quando recuamos na cadeia de abastecimento. Se estamos a produzir plástico a partir de plantas, também vale a pena perguntar: como é que estamos a cultivar estas plantas? Infelizmente, com recurso ao que de mais danoso se faz na agricultura de larga escala – deflorestação, culturas transgénicas e uso substancial de herbicidas e pesticidas. Além de aumentar a área necessária para a agricultura.
Da mesma forma, porque é que estamos a produzir alimentos para fazer plástico em vez de alimentar uma população mundial que não pára de crescer? (A mesma questão é válida para a produção de biocombustível, que a pandemia e a guerra na Ucrânia vieram igualmente trazer para o centro da discussão).
Em Portugal há apenas três centros de compostagem industrial (nos quais se inseririam os bioplásticos): uma na região do Porto (Lipor), uma na zona de Lisboa (Valorsul) e outra no Algarve (Algar). Por maior boa vontade que tenhamos em dar o devido destino aos bioplásticos que nos chegam às mãos, não podemos ir bater à porta de uma destas centrais para entregar os nossos resíduos. São necessários, sim, circuitos mais robustos de recolha selectiva, que por enquanto ainda estão numa fase muito incipiente em Portugal.
Nestes circuitos, os bioplásticos têm uma grande vantagem em relação ao plástico tradicional quando falamos de desperdício alimentar. Se a comida que transportam se estragar, embalagem e alimentos podem ser compostados em conjunto. Isto traduz-se em menos plástico enviado para aterro, em menor contaminação com comida do processo de reciclagem do plástico e na transformação destes resíduos orgânicos em composto, que assim volta ao solo em vez de ficar a emitir metano num aterro.
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Este artigo foi escrito pela Kitchen Dates e partilhado na sua newsletter. Na nossa opinião esta é uma das empresas mais conhecedoras e crediveis ligadas à sustentabilidade em Portugal. Por ser um tema de extrema importância partilhamo-lo também no nosso blog!
Sabemos que ainda temos muito a melhorar, principalmente no que respeita as nossas embalagens, que são recicláveis mas (ainda) não biodegradáveis. O nosso principal problema consiste em conseguir conservar o produto em embalagens que não sejam plásticas e possam ser compostáveis em casa (e não em ambiente industrial). Infelizmente ainda não encontramos uma solução, apesar de já termos testado vários bioplásticos.
Se tiver conhecimento de alguma alternativa ou fornecedor deste tipo de embalagens, agradecemos que entre em contacto connosco para podermos melhorar aquilo que mais nos preocupa: o uso de plástico nas nossas embalagens.